Moraes rouba a cena na diplomação de Lula

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Numa partida de futebol, Alexandre de Moraes seria o atacante, o dono da bola, e, claro, o juiz. Na diplomação eleitoral de Lula, foi imoral o discurso do presidente do TSE, mais extenso do que o do ex e próximo presidente. Tanto pelo número de caracteres quanto pelo teor político. Até parecia um imperador nomeando o governador de província. Tudo é hipertrofia nas cortes brasileiras de Justiça, desde a magnitude do autoritarismo das ações judiciais até o falar condoreiro.

Agressor contínuo das normas constitucionais, sua fala sobre a democracia beira o cinismo, pois os atos contrapõem as palavras, como a dizer que usa de ferramentas antidemocráticas para defender a democracia. Para garantir a pureza da donzela, deflora-a antes que algum sedutor aventureiro se aproveite de suas primícias. É a versão atualizada de Figueiredo e seu “prendo e arrebento” para dos dar a democracia.

Alexandre e sua corte vocalizam o duplipensar orwelliano exposto no 1984, a distopia do autor da também deliciosa obra A Revolução dos Bichos. O duplipensar consiste em afirmar que um conceito conota o seu exato exposto. A paz é guerra, a mentira é verdade, exercício comezinho da sociedade das fakenews, que sempre existiram, principalmente nas campanhas políticas. Mas agora prosperam em fluxo incessante nas redes sociais a ponto de se perder o tato, contato com a realidade. Cinderela.

Manifestação popular vira ato antidemocrático, assim também caraterizada qualquer crítica que se faça às instituições, que será logo enquadrada como ato contra o estado democrático de direito. Se se desconfiar do sistema eleitoral, as urnas eletrônicas, o sujeito só não recebe a pena capital porque o país ainda é muito condescendentes contra seus inimigos. Bem faz o Irã que pendura num guindaste, dispensando o cadafalso para enforcar os opositores.

A democracia é o único regime que permite a crítica contra si mesmo. Quando isso não existe, há muito deixou de ser democracia. A liberdade de expressão não é absoluta, assim como nenhum direito é, mas nunca foi tão relativizada como nesses tempos de excessivo poder xandônico. O imperial ministro tem tanta luz no cérebro, que não admite cabelo para sombreá-lo. O senhor dos calvos aloprou.

Cego de tanto poder, avançou sobre os índios, logo no dia da diplomação lulista. Como um Nero moderno, ateou fogo em Brasília com seus meganhas que sequestraram o cacique falador de impropérios. Sem noção da urbanidade, os indígenas são inimputáveis. São tão sem noção, que enfrentaram a polícia, tentaram invadir a sede da Polícia Federal. Ainda não se sabe se foi uma reação desproporcional do movimento que perdeu a mão, ou ação de infiltrados.

Seja como for, não houve uma manchete negativa sobre o vandalismo na capital federal que não apontasse os bolsonaristas como sujeitos das barbaridades. O fogo ateado nos carros correu solto nas coivaras das teorias conspiratórias, a ponto de achar que seria motivo para que o STF, e não Bolsonaro, acionasse as Forças Armadas, como prevê o artigo 142.

A ética foi para a casa do Kakay enquanto a elite política e judiciária brindava a vitória de seu candidato em suntuosa mansão de notório advogado de bandidos poderosos. Prestígio estampado nas bermudas com que frequenta as cortes, hábil no manejar de embargos auriculares, o anfitrião pode vir a defender algum político que será julgado por um daqueles juízes que comungam no mesmo regabofe.

Regada a bons uísques, champanhe e vinhos de boa cepa, a festança contou com uma roda de samba, que só atravessou quando alguém lembrou que aquilo tudo estava contaminado por enorme conflito de interesses. Alegria se espraiava pelas mesas enquanto Brasília ardia ao som de sirenes e gritarias. Missão dada, missão cumprida.

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