Retrospectiva da economia de 2022

Fachada do Ministério da economia
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Se em 2020 a pandemia da Covid-19 fez tombar a economia, e em 2021 a recuperação surpreendeu, 2022 foi o ano em que os velhos problemas voltaram com novas caras.

Recorde nas contas públicas, juros em disparada. Desemprego em queda, rendimento também. E inflação, muita inflação. Em 2022, os números não deram trégua aos brasileiros. Mesmo os que melhoraram ainda não trouxeram muito alívio à população, especialmente a de renda mais baixa.

Se em 2020 a pandemia da Covid-19 fez tombar a economia, e em 2021 a recuperação surpreendeu, 2022 foi o ano em que os velhos problemas voltaram com novas caras. O Brasil retomou sua trajetória de crescimento econômico em voo de galinha (saltos baixos e curtos), viu a inflação voltar a assustar, e o emprego crescer de forma precária.

Verdade seja dita, não foi só o Brasil que sofreu – embora tenha sofrido mais que boa parte dos países: a inflação, nossa velha conhecida, ganhou ares globais; os juros deslancharam em quase todo o mundo, e a estagnação econômica está às portas das economias desenvolvidas.

Os maiores culpados? A pandemia, que desarranjou a economia global; a guerra na Ucrânia, que levou a entraves comerciais entre a Rússia e boa parte do mundo; e as medidas radicais de contenção da Covid na China, que paralisaram parte da produção da segunda maior economia do mundo.

Aqui, no nosso quintal, dá para apontar o dedo ainda para a crise institucional agravada pelo governo Jair Bolsonaro, que minou a confiança dos investidores e piorou a imagem internacional do Brasil.

Sobrou mês para os salários dos brasileiros em 2022. A escalada de preços, que começou ainda no ano anterior, até pareceu que iria dar trégua em janeiro – mas aí veio a guerra na Ucrânia, puxando altas nos alimentos e no petróleo, e os números desandaram.

O alívio, mesmo, veio só no segundo semestre, quando cortes de impostos baixaram ‘na marra’ os preços nas bombas.

A gasolina foi a ‘vilã’ dos preços no ano – mas também serviu de bode expiatório.

Se em 2021 o preço médio do litro passou dos R$ 5, este ano teve quem pagasse mais de R$ 10 por ele. A guerra na Ucrânia e as medidas de retaliação contra a Rússia pela invasão mexeram com o mercado – e o que já estava difícil ficou ainda pior com uma ‘mãozinha’ da Opep, o cartel dos países produtores, que recusou aumentar a produção para segurar os preços.

Muita inflação originada num único item, no entanto, é um facilitador na hora de combater a alta de preços, e o governo Bolsonaro centrou fogo ali para aliviar a pressão pública em ano eleitoral. Tributos federais foram cortados, e uma lei reduziu o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrados pelos estados sobre os combustíveis.

Em meados do segundo semestre, temores de uma recessão global cresceram, e os preços internacionais do petróleo também perderam força, colaborando para manter a gasolina sob controle.

Na virada do ano, no entanto, esse cenário pode mudar, já que isenção dos impostos federais expira caso não seja prorrogada pelo novo governo.

Se a gasolina aliviou as contas dos brasileiros, nas prateleiras dos supermercados a vida não ficou mais fácil – e quem sofre são os consumidores de renda mais baixa, para quem os alimentos têm maior peso no orçamento.

A comida nunca esteve tão cara quanto em 2022, tanto por aqui quanto em todo o mundo. Parte da ‘culpa’ também é da guerra na Ucrânia: a Rússia – que vem sofrendo sanções pela invasão – é um dos maiores produtores globais de fertilizantes.

Mas a pressão sobre os preços é vem também do clima, que prejudicou safras de alguns países exportadores de alimentos, e da pandemia, que desorganizou a cadeia de produção agrícola. Como resultado, a inflação dos alimentos no Brasil era, em novembro, quase o dobro da registrada pelo IPCA geral.

Não foi só o governo federal que agiu durante o ano para controlar os preços: o Banco Central fez sua parte, e subiu sem dó a taxa básica de juros da economia.

A Selic já começou 2022 bem acima do piso de 2% registrado dois anos antes – mas escalou até atingiu os 13,75%, a maior taxa desde 2016 e o segundo maior juro real do mundo.

Subir os juros é o remédio mais conhecido para combater a inflação: ao encarecer o crédito e aumentar o rendimento das aplicações financeiras, incentiva a poupança e reduz o consumo – e, seguindo a lei da oferta e da procura, quanto menos demanda, menores os preços.

Só que o remédio é amargo: consumo fraco e investimento baixo também reduzem o crescimento da economia, e fazem o PIB estancar.

O dólar também deu uma forcinha para conter a disparada da inflação este ano. Depois de assustar e bater os R$ 6 em 2021, a moeda entrou o ano em trajetória de queda, e chegou a cair a R$ 4,60 em abril.

A disparada da inflação em todo o mundo fez a cotação voltar a subir, acompanhando a alta de juros no exterior – conforme os juros sobem em países considerados ‘bom pagadores’, como Estados Unidos e países europeus, a tendência é que a moeda ‘fuja’ para esses locais, fazendo a cotação subir aqui dentro (quanto menor a oferta de dólares, maior o preço).

A partir de julho, no entanto, com a estabilização da trajetória de inflação lá fora, o dólar aqui dentro também se firmou ao redor dos R$ 5,20 – embora a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva tenha ‘chacoalhado’ um pouco essa tendência.

O crescimento econômico brasileiro começou 2022 forte, ainda sob efeito da recuperação do ano, mas foi perdendo fôlego ao longo do ano. O Produto Interno Bruto (PIB) caminha para acumular alta de 3% no ano.

A ajuda para o crescimento também veio dos diversos auxílios distribuídos pelo governo em ano eleitoral: o Auxílio Brasil ‘vitaminado’ para R$ 600, a duplicação do valor do auxílio gás, e as ajudas para caminhoneiros e taxistas – medidas programadas para chegarem ao fim agora em dezembro.

Mesmo com as medidas, a inflação e a alta dos juros pesaram sobre a atividade, que foi perdendo força ao longo dos trimestres – e deve ter um crescimento de poucos décimos nos últimos três meses do ano (os dados devem ser divulgados em março de 2023).

Sem os auxílios extras – e afetado pela desaceleração global – o cenário aponta para um 2024 de estagnação.

Os dados do desemprego trouxeram notícias desencontradas para a economia brasileira. A recuperação econômica trouxe de volta o trabalho para os brasileiros, e a taxa de desocupação entrou em queda ainda no primeiro semestre.

Mas a qualidade do trabalho seguiu (bem) ruim. No trimestre encerrado em outubro, quatro em cada dez trabalhadores era informal – quase 40 milhões de pessoas. Com isso, o rendimento cresceu pouco ao longo do ano: o trabalhador brasileiro recebeu, em média, R$ 2.754 em outubro, segundo dados do IBGE.

A recuperação da economia trouxe de volta o superávit às contas públicas. Juntos, governo federal, estados, municípios e estatais arrecadaram mais do que gastaram no ano – mais precisamente, R$ 157,9 bilhões a mais, entre janeiro e outubro (sem contar as despesas com juros).

A inflação, que castigou a população, deu uma boa força às contas do governo, e impulsionou esse superávit. A lógica é que, quanto maior o preço dos produtos e serviços, maior é a arrecadação de tributos e impostos – que são, em grande parte, uma porcentagem aplicada sobre os preços pagos. Considerando uma tributação de 10% sobre o preço de venda de um determinado produto, se o preço sobe de R$ 100 para R$ 110 a fatia que vai para os cofres do governo sobe de R$ 10 para R$ 11.

Mas o arrefecimento da inflação e a desaceleração da economia podem complicar esse cenário para 2023, e o próximo governo terá que encontrar novas fontes de arrecadação para pagar os benefícios sociais – e para recompor o orçamento da saúde e da educação, esvaziados no governo atual.

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