Covid- Risco de transmissão entre mãe e bebê é baixo, mas infecção pode ‘desorganizar’ placenta

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Pesquisa acompanhou mais de 700 mulheres em 15 maternidades do Brasil e indicou ainda que gestantes e puérperas são grupos de alto risco para o coronavírus. Trabalho reforça a importância da vacinação mesmo em meio à melhora da pandemia, diz professora.

Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à convite da Organização Mundial da Saúde (OMS), analisou os impactos da Covid-19 entre mulheres grávidas e puérperas. Resultados já publicados apontam que o risco de transmissão do vírus entre a mãe infectada e o bebê é baixo, mas que o coronavírus pode ‘desorganizar’ o funcionamento da placenta, inclusive, levando ao risco de morte.

De acordo com Maria Laura Costa do Nascimento, professora associada do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, além de confirmar que esse grupo deve ser considerado de alto risco para a doença, a pesquisa reforça a necessidade da vacinação como forma de prevenir o agravamento da doença e, consequentemente, preservar a saúde de mãe e filho.

“Muito do nosso esforço foi também para coletar material biológico, investigar a placenta dos casos de mulheres que tiveram Covid, coletar o sangue e diversas amostras, estudar a presença do vírus ou não. Nem todos esses resultados estão publicados, mas a gente pôde demonstrar isso: o risco de transmissão pro bebê é muito baixo e existe sim um risco de comprometimento da placenta, desorganização do funcionamento [incluindo problemas de oxigenação e desenvolvimento do órgão], quanto mais precoce e mais grave a infecção durante a gestação”.

“Como o estudo foi estabelecido bem cedo, durante a pandemia, esses dados todos são prévios à vacinação, mostrando os impactos da doença. Esse estudo seguiu e agora a gente também tem os dados da vacinação que, certamente, é a intervenção mais preventiva para garantir uma boa resposta e diminuição da gravidade da infecção pela Sars-CoV-2”, completa a especialista.


Além dela, o estudo também foi coordenado pelos professores doutores Guilherme Cecatti, Renato Souza e Rodolfo Pacagnella. A iniciativa, que foi batizada de Rede Brasileira de Estudos em Covid-19 e Obstetrícia (Rebraco), teve início logo no primeiro ano da pandemia e, até fevereiro de 2021, coletou amostras de 729 mulheres atendidas por 15 maternidades de todo o país. Parte dos resultados já foram divulgados e agora esperam a aprovação de revistas científicas.

Com o projeto, os pesquisadores também puderam comprovar os efeitos do coronavírus em grupos específicos, como gestantes obesas, hipertensas e diabéticas. Outro ponto está ligado a fatores socioeconômicos, pois mulheres não brancas e com menor escolaridade também têm risco aumentado para morbidade e mortalidade materna, segundo o levantamento. Juntas, essas foram as que mais sofreram os efeitos da infecção, especialmente para o risco de alterações na pressão arterial, como conta a médica.

“Os trabalhos têm mostrado maior frequência de pré-eclâmpsia em mulheres com Covid-19. [Essa é] uma doença complexa, com aumento de pressão arterial e acometimento de diversos órgãos, que ocorre na segunda metade da gravidez. Nosso estudo mostrou que as mulheres com Covid e pré-eclâmpsia têm um desfecho ainda pior, com maior risco de prematuridade e morbidade materna. E muitas vezes, na doença grave, é difícil fazer o diagnóstico diferencial dessas condições, dificultando a decisão sobre o melhor momento para o parto”.

Grupos de pesquisa e outras análises

Como naquela época a testagem para Covid-19 ainda não era tão acessível, nem todas as mulheres que participaram da pesquisa tiveram a confirmação do diagnóstico – na maioria dos casos, o teste só foi feito quando a paciente precisou de internação. Apesar disso, todas manifestaram sintomas da doença. Do total, 77% fizeram testes, sendo que 276 receberam resultado positivo. A médica explica ainda que, além da relação entre a gestação e a doença, o estudo ainda foi além na investigação dos impactos da pandemia.

“Essa é uma proposta bem ampla. Tem essa parte, que diz o desfecho do que aconteceu com as mulheres e bebês, mas tem também uma parte qualitativa, que está em avaliação, que é sobre escutar essas mulheres e entender quais foram os medos, as angústias, as demoras. Dizer como foi para elas viver a infecção. Isso é também muito interessante”.
“Tem uma parte já publicada que avaliou como foi nas maternidades”, comenta. “Embora a gente tenha, basicamente, incluindo maternidades de alto risco e universidades, a gente conseguiu nesse cenário entender um pouco disso: como que montaram as equipes de enfrentamento à Covid, quando foi detectado o primeiro caso, quais maternidades tinham condição de testar, quais tinham estruturas de UTI, como eram os treinamentos”.

Apesar de estarmos vivendo um novo momento da pandemia e os efeitos da doença não serem tão graves como nos anos iniciais, a coordenadora do Rebraco exalta a importância desses dados. Para ela, a pesquisa ajudam a entender o que passou e trazem conhecimentos para o futuro. É relevante também por ser um dos poucos balanços registrados em um país de menor recurso – se comparado às nações mais ricas e que, normalmente, têm maiores investimentos para pesquisas como essa. Agora a iniciativa trabalha por mais resultados.

“Através desse estudo a gente ainda vai poder demonstrar muita coisa. Vamos discutir muito das amostras biológicas, dos efeitos na placenta, no leite materno. Ainda tem muito por vir. Claro que, com o fim da pandemia, o interesse sobre o assunto parece diminuir, mas a gente ainda tem muita coisa para mostrar de tudo que aconteceu no Brasil. Os efeitos foram muito significativos. A razão da mortalidade subiu muito no período, ainda não caiu o suficiente, e acho que está na hora de registrar e tentar mudar o cenário”, conclui.

Fonte- G1

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