Ceará lidera índice de homicídios em 2020
O número de homicídios no estado cresceu 81% em relação a 2019, conforme dados do Monitor da Violência.
O Ceará é o destaque negativo no combate à violência em 2020. O estado teve o maior aumento da violência no ano passado em relação a 2019, conforme dados do Monitor da Violência, índice nacional de homicídios criado com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.
Após um ano de queda em 2019, o número de mortes violentas no estado do Ceará disparou: passou de 2.235 em 2019 para 4.039 em 2020. Ao contrário de outros estados, o isolamento social estimulado pelas autoridades por conta da pandemia da Covid-19 não impediu o aumento das mortes em nenhum dos 12 meses.
Uma das causas deste aumento, segundo especialistas, é o motim dos policiais militares que ocorreu há um ano, em fevereiro de 2020. Durante os 13 dias da greve policial, houve 312 homicídios, uma média de 26 por dia. Antes, a média era de 8 por dia. Mas o fato não é o suficiente para explicar, por exemplo, o aumento de 105% em abril, no primeiro mês das medidas de isolamento social no estado, afirmam os estudiosos.
Segundo Ricardo Moura, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará, fevereiro e abril foram os meses mais violentos desde o início da série histórica, em 2013.
Diferentes causas explicam o fenômeno, segundo Moura, entre elas as disputas territoriais das facções criminosas. Um exemplo é o assassinato do coroinha Jefferson Brito Teixeira, de 14 anos, morto em Barra do Ceará, em Fortaleza, em agosto. A Área Integrada de Segurança que o bairro integra teve a maior queda em 2019 e o maior aumento do estado em 2020.
Segundo o Ministério Público, o rapaz foi morto devido a três cortes que tinha na sobrancelha. Os envolvidos no crime acreditaram que os cortes simbolizavam uma facção criminosa rival. Um funcionário da paróquia, porém, diz que o rapaz não tinha envolvimento com crimes e que o bairro vive com medo, sob o controle de facções criminosas.
“Aqui hoje o bairro é dividido por facções. A paróquia fica numa região comandada por uma facção. Aqui pertinho, a apenas duas quadras, já é de outra. Aí fica a confusão. Não podemos nem atravessar a rua. Não conseguimos realizar nosso trabalho de maneira perfeita por conta da violência”, desabafa.