Mulheres defendem políticas de apoio à amamentação nas escolas
O debate alertou para as dificuldades enfrentadas por muitas mães
A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados realizou um debate sobre a criação de políticas públicas de incentivo à amamentação em ambiente escolar. O debate alertou para as dificuldades enfrentadas por muitas mães, especialmente trabalhadoras informais, que não conseguem garantir o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida dos seus filhos.
A iniciativa partiu da deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) que argumentou que a escola, muitas vezes recebe essa criança ainda pequena, é um setor estratégico para a proteção da amamentação. No entanto, ela observou que algumas escolas não oferecem as condições básicas para que mães possam amamentar quando se inicia a vida escolar das crianças. “Isso acaba gerando uma cultura do desmame precoce, que prejudica a saúde e o desenvolvimento das crianças e das mães”, afirmou.
Entre os convidados para o debate, estavam representantes de movimentos sociais, profissionais da saúde e da educação, que compartilharam suas experiências e propostas para promover a amamentação nas escolas. Uma das participantes foi Chica Sanmartin, presidente do Leite Materno na Escola (LeME), uma organização que atua na defesa do direito à amamentação em ambiente escolar. Ela contou que o LeME surgiu em 2019, após ela ter sido impedida de amamentar seu filho na escola onde ele estudava.
“Eu fui barrada na porta da escola e me disseram que eu não podia entrar para amamentar. Eu fiquei indignada e comecei a pesquisar sobre o assunto. Descobri que isso acontece com muitas mães e que não há uma legislação específica que garanta esse direito”, relatou. Ela disse que o LeME busca sensibilizar as escolas, os pais e a sociedade sobre a importância da amamentação e também pressionar o poder público para criar leis e políticas que apoiem as mães lactantes.
Outra convidada foi Ana Laura Oliveira, codeputada estadual pelo Movimento Pretas, um mandato coletivo formado por mulheres negras em São Paulo. Ela destacou que a questão da amamentação nas escolas envolve também aspectos raciais, de classe e de gênero. “As mulheres negras são as mais afetadas pela falta de apoio à amamentação, pois são as que mais trabalham no mercado informal, sem direito à licença-maternidade, e as que mais sofrem com a violência obstétrica e a falta de acesso à saúde”, disse.
Ela defendeu que as políticas públicas de incentivo à amamentação nas escolas devem considerar as especificidades das mulheres negras e das mulheres pobres, que muitas vezes são invisibilizadas e discriminadas. “É preciso garantir que essas mulheres tenham voz e participação nas decisões sobre esse tema, pois elas são as principais interessadas e as mais afetadas”, afirmou.
A nutricionista Katia Iared Romanelli, da Divisão de Educação Alimentar e Nutricional da Coordenadoria de Alimentação Escolar, apresentou algumas ações que estão sendo desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo para incentivar a amamentação nas escolas. Ela explicou que a secretaria tem realizado capacitações para os profissionais da educação sobre os benefícios do aleitamento materno e sobre como acolher e orientar as mães lactantes.
Ela também informou que a secretaria tem implantado espaços adequados para a amamentação nas escolas, com conforto, privacidade e higiene. Além disso, ela disse que a secretaria tem promovido campanhas educativas para os pais e alunos sobre a importância da amamentação para a saúde das crianças e das mães. “Nós entendemos que a escola é um espaço privilegiado para difundir essa cultura do aleitamento materno e para apoiar as famílias nesse processo”, concluiu.