Cidade do Cariri que se declarou independente em 1817 e lutou pela independência do Brasil em 1822

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Cinco anos antes da Independência brasileira e 72 anos antes da proclamação da República do Brasil, a cidade do Crato, na região do Cariri, reuniu as suas principais autoridades locais e proclamou-se uma república independente.

A independência do Crato foi curta: durou cerca de 8 dias. Neste breve período, no entanto, a vila chegou a formar um governo provisório; foi à vila vizinha, de Jardim, e a fez declarar independência também; e preparou tropas para invadir a vila de Icó, à época com forte presença portuguesa.

O episódio da independência do Crato foi mais um de um longo histórico de envolvimento político do Cariri cearense. Entre 1822 e 1823, com as guerras de Independência brasileira, soldados desta região lutaram no Piauí e no Maranhão contra os portugueses. Em 1824, lutaram na Confederação do Equador.

Em maio de 1817, quando proclamou-se república, o Crato ainda era uma vila e o Brasil ainda era parte do Reino Unido com Portugal. Dom João VI estava no trono, no Rio de Janeiro, com toda a Corte portuguesa, fugida de Lisboa após invasão pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte.

Para sustentar a nova Corte, a burocracia estatal recém-ampliada na cidade e as intervenções urbanas que o rei promoveu no Rio de Janeiro, o governo real subiu os impostos, que sufocaram os principais centros comerciais do Brasil, localizados então no Nordeste.

Ao mesmo tempo que o rei ajustava a nova capital do império português, circulavam fortemente os ideais da Revolução Francesa, amplificados pelos sucessos militares de Napoleão. No continente americano, aumentavam o número de países independentes: Estados Unidos desde 1776, Haiti em 1804, Paraguai em 1811, Argentina em 1816.

Foi neste cenário que eclodiu a Revolução Pernambucana, em 1817. E com ela, a independência da vila do Crato.

Independência do Brasil no Ceará
Em 1822, Napoleão Bonaparte já havia sido derrotado. Dom João VI tinha retornado a Portugal, e os portugueses haviam emplacado a Revolução do Porto, que obrigou a família real portuguesa a aceitar um sistema constitucional de governo, cuja constituição seria escrita pelos parlamentares.

Enquanto esteve no Brasil, a família real implantou reformas que acabaram por permitir autonomia política e econômica do país, inclusive elevando seu status a país integrante do Reino Unido com Portugal. Os revolucionários do Porto, por sua vez, queriam que a colônia voltasse a ser uma colônia.

“Aquela crise [Revolução do Porto] forçou os grupos políticos no Brasil a tomarem uma posição, e uma das posições aventadas era a ruptura política com Portugal. Tudo isso era um grande debate que acontecia na época, principalmente na Corte do Rio de Janeiro”, explica Tyrone Pontes Cândido.

No dia 2 de setembro de 1822, o patriarca da Independência, José Bonifácio, redigiu a declaração em que os brasileiros formalmente se separavam de Portugal e fundavam o Império do Brasil. A declaração foi assinada pela imperatriz Maria Leopoldina no Rio de Janeiro e enviada por mensageiros para Pedro I, que estava em São Paulo.

No dia 7 de setembro, às margens do riacho Ipiranga, Pedro I assinou a declaração que tornava o Brasil independente – na teoria. Na prática, foi um processo longo até a independência se consumar. “No Brasil não houve assim uma Independência provocada por uma consciência nacional coletiva que foi crescendo até se tornar a ideia de uma independência”, pontua Tyrone.

Em 1822, a comunicação entre províncias era demorada. Ao longo dos meses seguintes, as províncias brasileiras debateram e até guerrearam pela união ao Império do Brasil ou à Coroa portuguesa. No Ceará, então governado por uma Junta de Governo provisória, não foi diferente.

A capital cearense só recebeu a informação da independência no dia 14 de outubro. No Crato, apenas cinco anos antes devassado pelos portugueses por conta do apoio à Revolução Pernambucana, a notícia exaltou os ânimos. Da capital Fortaleza, no entanto, não se tinha notícias de apoio do governo provincial a Pedro I.

“No Icó, foi concentrado um colégio de eleitores e lá eles formaram uma junta [de governo], que é essa articulação que vem do Crato e vem conquistando adesão ali pelos sertões do Ceará para se contrapor à junta que estava reunida em Fortaleza. E isso porque eles acusavam essas elites de Fortaleza de não avançar na adesão da causa nacional [a independência]”, afirma Tyrone.

Entre os principais articuladores deste movimento estavam antigos rivais: o capitão-mor do Crato, Pereira Filgueiras, e o irmão de Martiniano Alencar, Tristão Gonçalves, que estiveram em lados opostos na Revolução Pernambucana de 1817.

“Essa Junta do Sertão, ela vai acusar a Junta do Litoral de ser uma junta pró-portugueses. É uma disputa das elites. Só que essa Junta do Sertão traz consigo um exército de quase 6 mil homens armados”, completa o professor.
Não foi preciso invadir Fortaleza: em 24 de novembro, a Junta Provisória reconheceu a Independência do Brasil de Pedro I.

Fonte- G1

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