Serviços em alta podem frear queda dos juros, dizem analistas

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A expansão sinaliza um aumento de preços dos serviços, que influenciam a inflação e a política monetária

O crescimento do setor de serviços no Brasil pode dificultar a redução da taxa básica de juros, a Selic, nos próximos meses. Segundo dados do IBGE, o segmento que representa 70% do PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,6% no segundo trimestre e registrou o 12º resultado positivo consecutivo. A expansão sinaliza um aumento de preços dos serviços, que influenciam a inflação e a política monetária.

A taxa Selic caiu 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), realizada no início de agosto. Foi o primeiro corte dos juros básicos em três anos. O mercado financeiro prevê novas quedas da Selic, mas o BC (Banco Central) diz estar atento à trajetória dos preços.

Na ata da reunião que efetivou o corte da Selic, os diretores da autoridade monetária afirmam que o recente comportamento da inflação de serviços foi debatido “de forma profunda”. Eles notaram que os indicadores desse segmento apontam para uma continuidade na trajetória de desinflação do período recente, mas ainda em níveis acima do patamar compatível com a meta.

De acordo com o IBGE, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulava alta de 3,16% nos 12 meses finalizados em junho. O valor corresponde a quase metade da variação apurada somente para o setor de serviços (6,21%) no mesmo período.

Para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, a sequência de avanços do setor de serviços no Brasil reflete a demanda que ficou reprimida durante a pandemia do novo coronavírus. “As pessoas ainda topam pagar mais caro por shows, eventos e viagens para consumir serviços, algo que ficaram sem nos últimos anos”, ressalta.

De acordo com Cruz, o movimento atrapalha o ritmo de desaceleração da inflação, o que motiva a preocupação com o futuro da taxa básica de juros. “A retirada das pressões do setor de serviços é um pouco mais lenta, o que vai deixar o Banco Central um pouco mais reticente sobre acelerar o corte dos juros”, diz ele, que prevê uma retomada da discussão no fim deste ano.

Claudio Felisoni, presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo), explica que o setor de serviços responde por cerca de 35% da composição do IPCA, o que pode trazer um impacto “significativo” no tamanho das quedas recentes dos juros. “A inflação associada aos serviços opera em ritmo de queda, mas, se isso não acontecer do modo como se imagina, essa situação pode impedir movimentos mais efetivos de redução da Selic”, diz ele.

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