Apenas 3 a cada 10 meninos estão com vacinação completa contra o HPV no Ceará
Somente 3 a cada 10 pessoas do público-alvo masculino, de 9 a 14 anos, para a vacinação contra o HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), estão adequadamente imunizadas com as duas doses do esquema. A infecção pelos vírus causa diversos tipos de câncer, tumores e verrugas. Para evitar as doenças, a meta de cobertura de vacinação é de 80% dos meninos e meninas.
No entanto, apenas 59% dos meninos receberam a primeira dose (D1) e 32% completaram a imunização com a segunda dose (D2). Entre as meninas, 87% tomaram a D1 e 62% estão com a D2. Os dados foram repassados ao Diário do Nordeste pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e ainda podem ser alterados com a consolidação das informações.
A atualização mais recente desse tipo de vacinação foi feita sobre o período entre janeiro e outubro do ano passado e, para o HPV, a Secretaria acompanha toda a faixa-etária, de 9 a 14 anos, para monitorar a porcentagem desse grupo que está imunizada. Assim, a população é avaliada ano a ano.
O HPV é a infecção sexualmente transmissível mais frequente no mundo e está ligado a quase todos os cânceres de colo de útero, além de causar verrugas na região genital e no ânus. A vacinação para as meninas começou em 2014 e para os meninos em 2017 no Brasil.
O cenário de imunização contra o HPV é observado pela Sesa para definir as estratégias de ampliação da cobertura, sendo os meninos um desafio atual para aumentar a proteção coletiva.
“De maneira geral, quando a gente avalia os vacinados, temos uma adesão maior no grupo-alvo de meninas. Os meninos adolescentes tem uma resistência e essa foi uma vacina incorporada um pouco depois (do que para as meninas)”, analisa Ana Karine, coordenadora de imunização da Sesa.
A especialista destaca um aumento da vacinação nos últimos meses também relacionada às campanhas realizadas nas escolas de todo o Estado. “Já tivemos reuniões com as secretarias de educação e a gente pretende reforçar o avanço da vacina para esse grupo-alvo”, completa.
É muito importante que os adolescentes possam receber a vacina, que tem uma indicação de prevenção e não de tratamento, porque previne a infecção de alguns tipos de HPV que podem causar certos de câncer, como colo de útero, vulva, vagina, entre outros.
ANA KARINE
Coordenadora de imunização da Sesa
Existem mais de 100 tipos de HPV e, pelo menos, 14 deles são cancerígenos, conforme a Organização Pan-Americana de Saúde. A vacina disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) protege contra os tipos mais frequentes: 6, 11, 16 e 18.
Essa imunização está disponível nos postos de saúde, de forma gratuita, para as pessoas com recomendação pelo Ministério da Saúde. Confira:
Meninas e meninos de 9 a 14 anos, com esquema de 2 doses. Adolescentes que receberem a primeira dose dessa vacina nessas idades , poderão tomar a segunda dose mesmo se ultrapassado os seis meses do intervalo preconizado, para não perder a chance de completar o seu esquema;
Vítimas de abuso sexual de 15 a 45 anos (homens e mulheres) que não tenham tomado a vacina HPV ou estejam com esquema incompleto administrar conforme a indicação da situação vacinal , completando três doses da vacina HPV( 0,2,6 meses)
Mulheres e homens que vivem com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos na faixa etária de 9 a 45 anos, com esquema de três doses (0,2,6 meses) , independentemente da idade.
A endocrinologista pediatra Izabella Vasconcelos explica que a proteção contra a infecção pelo HPV evita doenças no paciente vacinado e também nos futuros parceiros.
“Precisamos vacinar tanto meninos quanto meninas para que haja uma proteção efetiva, visto que o HPV é uma doença sexualmente transmissível e nossos filhos devem estar protegidos muito antes de iniciar a vida sexual”, alerta a pediatra.
A especialista orienta ainda que, quando uma criança ou adolescente deixa de tomar a segunda dose no período adequado, ainda deve receber a D2 para completar o esquema. O intervalo ideal entre as doses é de 6 meses.
“Os pacientes fora da faixa etária indicada no calendário vacinal do SUS podem tomar a vacina em clínicas particulares. Porém o mais importante é o uso de preservativos para evitar a contaminação pelo vírus, além dos exames de rotina como papanicolau (prevenção ginecológica)”, recomenda.
QUAIS SÃO OS RISCOS DO HPV?
Na maioria dos pacientes, a infecção pelo HPV não gera nenhum sintoma ou leva meses e até anos para ser notado, conforme o Ministério da Saúde. As lesões causadas pelo vírus podem surgir em momentos em que o paciente está com a imunidade mais enfraquecida – momento em que há uma multiplicação do HPV.
O diagnóstico do vírus é feito por meio de exames clínicos e laboratoriais. Em geral, os médicos analisam os tipos de lesões que são, principalmente duas: clínicas e subclínicas (não visíveis a olho nu).
As lesões clínicas são verrugas na região genital e no ânus, conhecidas popularmente por “crista de galo”, podendo ser únicas ou múltiplas, de tamanhos diferentes, achatadas ou elevadas. Normalmente, podem passar despercebidas ou causar coceira, não sendo um tipo associado ao câncer.
Já as lesões que não são vistas a olho nu surgem nos mesmos lugares das verrugas, contudo não apresentam sintoma. As lesões podem podem ser causadas por tipos de HPV de baixo e de alto risco para desenvolver câncer.
De modo geral, o HPV pode causar lesões na vulva, vagina, colo de útero, região perianal, ânus, pênis (geralmente na glande), bolsa escrotal e/ou região pubiana. De forma menos frequentemente, podem aparecer na mucosa nasal, oral e laríngea.
Izabella contextualiza que a imunização é ainda mais estratégica para evitar as doenças. “A vacina contra o HPV é essencial na prevenção do câncer de colo do útero, órgãos genitais, anus e faringe a longo prazo. Ela confere uma imunidade muito maior, inclusive, do que a infecção natural”, frisa.
Com relação aos meninos, público com menos doses da vacina, a proteção também acontece para doenças de longo prazo. “Esse vírus é responsável pelo câncer de pênis, boca e garganta nos homens, sendo responsável por muitas mortes nesse grupo populacional. Daí a importância em vacinar os meninos”, conclui.
ESTRATÉGIAS DE VACINAÇÃO
Considerando o cenário atual e os riscos do HPV, a Secretaria da Saúde busca aumentar a cobertura vacinal com a vacinação das unidades de ensino.
“Em 2023, nós tivemos várias estratégias de vacinação articuladas com a escola, nas quais esse grupo alvo foi completamente mobilizado e tivemos uma adesão com incremento de 30% no final do último ano”, explica Ana Karine.
Dessa forma, a ideia é alcançar a meta vacinal entre meninos e meninas. “Nós temos uma eficácia para lesões de alto grau, associados ao HPV, em torno de 96%. É uma vacina segura, eficaz e disponível desde 2014”, reforça.
Fonte- Diário do Nordeste