Judas morreu em Sobral
Foi-se o tempo em que o povo de Sobral lotava alguns pontos da cidade para malhar o Judas. Era uma das mais vivas tradições deste povo, certamente desde o começo da formação urbana. A malhação acontecia em diversos lugares, mas somente dois ficaram famosos e impregnados na mente das pessoas: os judas da Praça da Várzea e do Fanelom, na Rua da Fortaleza.
A programação começava na Sexta-Feira Santa, quando os representante de Judas, com paletós e sapatos, eram amarrados a uma grade linha de madeira, a qual era coberta de graxa, tendo em vista dificultar o acesso dos derrubadores de Judas até à corda que sustentava os bonecos, que ficavam expostos ao escárnio público, até serem derrubados e rasgados ou incendiados no Domingo da Ressurreição.
Nesse tempo não muito distante, ainda se preservava tradições culturais, coisa que a “modernidade” de hoje renega, dando provas de ignorância ou incompetência. A tradição da malhação de Judas chegou ao Brasil por influência da Península Ibérica e foi incorporada ainda na época colonial. A tradição foi, inclusive, pintada por Jean-Baptiste Debret, em 1823, e retratada na peça “O Judas em Sábado de Aleluia” do escritor Martins Pena, em 1840.
Como se lê, a malhação não nasceu em Sobral; os seus destruidores sim. Se for feita uma lista das perdas culturais de Sobral, se terá a certeza de que essas gestões escabrosas serviram, até agora, somente para destruir as coisas boas de Sobral. Essa é a realidade que se tem e que muito entristece o povo que admirava as tradições culturais sobralenses, que eram muitas.
Editorial- 02/04/2024