Infiltração de criminosos na política ameaça segurança eleitoral

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Especialistas alertam para a crescente infiltração de organizações criminosas na política

No início deste mês, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) anunciou a mudança de 53 locais de votação em dez municípios do estado, incluindo a capital e cidades da Baixada Fluminense, como Duque de Caxias, Belford Roxo e Nova Iguaçu. A alteração afeta 171 mil eleitores e foi motivada por questões de segurança, principalmente devido à atuação de grupos criminosos nas regiões impactadas.

Especialistas alertam para a crescente infiltração de organizações criminosas na política, uma ameaça que não se restringe ao Rio de Janeiro, mas que afeta eleições municipais em todo o Brasil. Esses grupos, que incluem milícias e facções do tráfico, usam violência, ameaças e coação para garantir a eleição de candidatos favoráveis aos seus interesses, comprometendo a integridade do processo eleitoral.

Segundo o doutor em Ciências Policiais e Segurança Pública, Alan Fernandes, há um risco real de coação de eleitores em áreas dominadas pelo crime organizado, especialmente no dia da eleição. “Esses grupos podem impedir o comparecimento de eleitores ou coagi-los a votar em candidatos de sua preferência”, explica. Para evitar essas práticas, o TRE-RJ busca garantir que os eleitores possam votar com segurança, realocando locais de votação para áreas menos vulneráveis.

Além das mudanças de locais, outras medidas já foram implementadas para combater essa influência. Desde 2008, o uso de celulares e câmeras nas cabines de votação é proibido, uma ação tomada para evitar que criminosos forcem eleitores a registrar seus votos como prova de obediência.

Pesquisadores como Miguel Carnevale, da UniRio, e André Rodrigues, da UFF, destacam que a interferência do crime organizado é particularmente intensa nas eleições municipais, onde o contato entre políticos e comunidades é mais direto. Essa proximidade facilita a imposição de candidatos apoiados por grupos criminosos, criando um cenário de clientelismo e violência. Na Baixada Fluminense, por exemplo, foram contabilizados 60 assassinatos relacionados à política local desde 2015.

A mudança nos locais de votação não elimina completamente o problema, mas é vista como uma tentativa de garantir maior segurança para eleitores. No entanto, a violência política não se restringe ao crime organizado. O acirramento ideológico e o uso de redes sociais como amplificadoras de discursos violentos têm contribuído para um aumento de ameaças e agressões entre candidatos e eleitores.

Segundo o Observatório da Violência Política e Eleitoral, o número de casos de violência contra lideranças partidárias mais que dobrou entre abril e junho deste ano em comparação ao trimestre anterior. Com o aumento da violência política e o fortalecimento de grupos criminosos, o Ministério da Justiça e Segurança Pública prorrogou por 90 dias a presença da Força Nacional no estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de garantir a segurança durante o período eleitoral.

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