O Brasil encerrou 2024 com um salto alarmante na quantidade de pessoas vivendo em situação de rua. Um levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da UFMG apontou um aumento de 25% em relação ao ano anterior, passando de 261.653 para 327.925 pessoas. O dado é 14 vezes superior ao registrado em 2013, quando 22.922 pessoas estavam nessa condição.
Os números foram extraídos do Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico), instrumento que mede a vulnerabilidade social e orienta repasses federais. A maior concentração está no Sudeste, que abriga 63% da população em situação de rua, com destaque para São Paulo, onde os números saltaram de 106.857 para 139.799 em um ano.
Especialistas destacam que o aumento reflete tanto a eficiência do CadÚnico em registrar essa população quanto a ausência de políticas públicas estruturantes em áreas como moradia, trabalho e educação. Cerca de 70% das pessoas em situação de rua não concluíram o ensino fundamental, e 11% são analfabetas, reduzindo suas chances de inserção no mercado de trabalho.
Em São Paulo, a disparidade entre o número de imóveis vazios e a população em situação de rua reforça as críticas à falta de iniciativas resolutivas. São 590 mil imóveis desocupados na capital paulista, enquanto 92.556 pessoas vivem nas ruas, segundo o Observatório da UFMG.
Para Robson César Correia de Mendonça, do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, o problema persiste pela ausência de vontade política. Ele defende que a adaptação de imóveis ociosos para habitação seria mais econômica e eficaz do que os investimentos em albergues.
Apesar de avanços pontuais em repasses, como os R$156 milhões alocados no ano passado em São Paulo para serviços de Proteção Social, os desafios permanecem. O crescimento contínuo da população em situação de rua evidencia a necessidade de políticas públicas abrangentes e integradas para enfrentar essa crise social.