Um levantamento recente revela que o Brasil abriga 119 povos indígenas em isolamento voluntário, também chamados de povos livres. Destes, 37 vivem em territórios sem qualquer proteção oficial, o que os torna vulneráveis à invasão e a ameaças que podem levar à sua extinção. Os dados constam no livro “Povos Indígenas Livres/Isolados na Amazônia e Grande Chaco”, lançado em Brasília, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na quinta-feira (13).
A pesquisa, conduzida pela Equipe de Apoio aos Povos Livres do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), aponta que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) reconhece oficialmente 114 desses povos, mas apenas 28 tiveram sua existência comprovada. Para o antropólogo Lino João de Oliveira Neves, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a dificuldade no reconhecimento desses grupos reflete uma política de negligência governamental, que visa evitar obrigações constitucionais de proteção.
Neves alerta para um retrocesso na política indigenista na América Latina, destacando que medidas de proteção territorial, que avançaram há cerca de 15 anos, estão sendo desmanteladas, especialmente no Brasil e no Peru. Desde 1987, o Brasil optou por não promover aproximação forçada com esses povos, permitindo que permanecessem isolados. Contudo, a expansão de atividades ilegais e a exploração econômica das florestas onde vivem estão reduzindo drasticamente seus territórios.
O missionário e historiador Guenter Francisco Loebens, um dos organizadores da publicação, destaca que muitos desses povos habitam regiões de fronteira, o que exige uma cooperação internacional para garantir sua proteção. O secretário do Grupo de Trabalho Internacional para a Proteção dos Povos Indígenas Isolados e Contato Inicial (GTI-PIACI), Daniel Aristizabal, reforça que a situação também se repete em países como Colômbia, Equador, Venezuela, Bolívia e Paraguai, e até mesmo na Índia e possivelmente na África.
O livro “Povos Indígenas Livres/Isolados na Amazônia e Grande Chaco” pode ser baixado gratuitamente no site do Cimi. Exemplar físico está disponível para aquisição por R$ 45, com valores revertidos para cobrir os custos da publicação.
