Açudes do CE sangram após chuvas, mudam paisagem seca e atraem visitantes de cidades próximas

Reservatórios antigos movimentam lazer e economia de pequenas comunidades
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É clima de festa. Após meses de uma paisagem árida e sem água, açudes do Ceará começaram a sangrar como efeito das fortes chuvas que começaram a atingir o Estado mais cedo. Em vez de março ou abril, meses que marcam o período mais expressivo da quadra chuvosa, eles começaram a transbordar mais cedo, ainda em janeiro.

Nesta quarta-feira (29), 10 açudes estão sangrando no Ceará, conforme monitoramento do Portal Hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). A maioria deles fica na região Norte do Estado. Outros três já acumulam acima de 90% da capacidade.

Na última semana, o Diário do Nordeste percorreu quatro cidades da área para acompanhar a mudança de cenário trazida pelas chuvas. É, sim, clima de festa no interior. Todos os dias, parte da população se desloca até os reservatórios para tomar banho, brincar ou simplesmente observar o espetáculo tão esperado.

O São Pedro Timbaúba, em Miraíma, começou a sangrar por volta do dia 15 de janeiro – a nona vez consecutiva. Superando os 15,7 milhões de m³, ele formou uma estrada de água no sangradouro do açude, conectando dois lados da cidade. No meio, adultos mergulhavam e jovens faziam “mortais” para cair em piscinas.

O açude sangrado trouxe ainda mais significado ao nome da localidade: Campo Alegre. A dona de casa Ciça Cleide, que nasceu por lá há 57 anos e ainda hoje mora ao lado da barragem, observa animada toda a movimentação – a nona consecutiva do reservatório centenário, concluído em 1916 para barrar as águas do riacho Bom Jesus, afluente do Rio Aracatiaçu.

“É lazer não só pro pessoal daqui, mas o pessoal de fora que vem também”, afirma. Diversão tranquila, assegura ela, porque o último inverno com danos mesmo foi em 2009. “A água entrou nas casas, o pessoal perdeu as coisas, teve que ir morar na escola. Foi a enchente maior que eu já vi: o pessoal passava por cima da ponte e lavava os pés”, lembra.

A 62 km dali, dois irmãos da região do Acaraú sangram ao mesmo tempo: o Forquilha, na zona urbana da cidade de mesmo nome, e o Arrebita, na zona rural. O Forquilha, concluído em 1928, passou dos 50,1 milhões de m³ pelo terceiro ano seguido. Ele abastece a sede municipal, além de comunidades no entorno e indústrias próximas.

O forquilhense Pedro Lima recorda bem o dia da sangria: “depois da chuva de 200 mm”. Depois disso, sábados e domingos, e até dias de semana, se tornaram lotação de visitantes. “Antigamente, aqui só tinham barracas de madeira, agora tem tenda”, percebe. Em breve, também deve ser inaugurado um balneário ao lado do açude.

Um detalhe que chama atenção no local são duas traves metálicas com as bases cobertas pela água. Segundo Pedro, alguns anos atrás, o terreno agora inundado era um campinho de futebol. Hoje, as partidas disputadas entre distritos e outras cidades se tornaram inviáveis.

Esse detalhe tem paralelo com a própria criação do açude: segundo o memorial do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), para construí-lo, foi preciso desocupar o povoado de Campo Novo. Em tempos de estiagem, ainda é possível identificar ruínas da antiga comunidade, como parte do cruzeiro que ficava no entorno da igreja e da edificação do antigo cemitério local.

Já o Arrebita, construído em 1992, ultrapassou os 18,5 milhões de m³ e também sangrou pelo terceiro ano consecutivo. Ele acumula águas do riacho Sabonete e foi projetado para abastecer o distrito de Trapiá.

A comunidade do distrito de Patos, em Sobral, também celebra cada sangria. É que o Patos – açude construído em 1921 para barrar o Aracatiaçu – recebe carga da região e sangrou algumas vezes nas últimas duas semanas, segundo o sistema de medição da Cogerh.

A barragem, localizada na Bacia do Litoral, ultrapassou o volume máximo de 7,55 milhões de m³ pelo 3º ano seguido, dois meses antes da pré-estação chuvosa. Conforme o Governo estadual, as precipitações do dia 15 de janeiro fizeram com o que o volume do açude subisse 45% em apenas dois dias.

No último sábado (25), pouco mais de uma semana após a primeira sangria, crianças, jovens e adultos chegaram cedo para mergulhar e dar saltos na água.

Outro grupo de amigos tirou do porta-malas de um carro caixa de som, lenha, óleo, temperos e até rede de dormir. O objetivo era pescar, assar os peixes – sobretudo tucunaré e curimatã – e “resenhar” até o fim da tarde, por volta de 17h, quando começa a escurecer na região.

A secretária escolar Rose Vasconcelos também aproveitou para levar os dois filhos para tomar banho. “Como sábado e domingo é lotação, gosto de trazer cedo. Os meninos adoram essa folia”, ri a mãe, molhada por respingos a cada novo mergulho.

Fonte- Diário do Nordeste

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