As mudanças climáticas têm alterado dinâmicas ambientais em todo o planeta, afetando inclusive os oceanos e as áreas costeiras. No Ceará, diversas cidades enfrentam processos erosivos e redução das praias, inclusive em Icapuí. Moradores do destino turístico que faz divisa com o Rio Grande do Norte, no Litoral Leste do Estado, relatam apreensão com a força das marés e cobram medidas de contenção do problema.
Na última década, a praia da Peroba vem apresentando sinais de desgastes. Em 2022, por exemplo, uma intensa ressaca do mar “engoliu” o trecho de uma via perto de postes de energia elétrica e residências. À época, a gestão municipal relatou que o evento estava ligado “às questões climáticas e uso e ocupação de forma desordenada na orla marítima”.
Porém, nem a construção de paredões no local surtiu efeito para minimizar o impacto das ondas. Em 2024, após um longo processo de discussão, a Prefeitura Municipal iniciou a construção de um espigão. Atualmente, trabalhadores e maquinário já estão em operação.
29% da orla de Icapuí está sujeita a processos erosivos, conforme um estudo do Programa Cientista Chefe do Governo do Estado. Dos 45km de extensão, cerca de 13km podem apresentar problemas no futuro.
Além da Peroba, o levantamento aponta que várias outras praias de Icapuí estão sujeitas a processos erosivos, dentre as quais Retiro Grande, Redonda, Picos e Barreiras.
Apesar de não constar nesse mapa, outra delas é a praia de Ponta Grossa, famosa pela saída de passeios de barco. Nos últimos anos, os moradores perceberam o avanço da maré e a ameaça cada vez mais próxima do impacto em imóveis residenciais e comerciais.
Por conta do problema, a Associação Comunitária de Ponta Grossa (ACPontag) decidiu enviar à atual gestão um pedido de decretação de estado de calamidade pública na comunidade.
O grupo explica que, por estar situada em uma área abaixo do nível do mar, Ponta Grossa corre “alto risco de alagamentos em curto espaço de tempo”. Outra ameaça em curso é o soterramento de áreas urbanas pelas dunas, fenômeno que no futuro “irá dificultar a mobilidade, impedindo o acesso por turistas e moradores causando prejuízos incalculáveis à economia local”.
“A situação que se configura a comunidade de Ponta Grossa exige ação imediata e coordenada do poder público, sob pena de acarretar danos irreparáveis à população, pois há o risco de alagamento e soterramento de moradias, comércios, restaurantes e pousadas”, defende.
A Associação entende que o decreto é a forma de mobilizar recursos e esforços de todas as esferas dos governos do Estado do Ceará e Governo Federal, para financiar ações de socorro, assistência e recuperação das áreas afetadas. Como medida emergencial, também requer a construção de um espigão para contenção da maré.
A gestão municipal de Icapuí já está a par do problema. Em 18 de fevereiro, a Defesa Civil da Prefeitura realizou uma visita técnica na praia para avaliar os danos causados pela erosão marinha. Dias depois, o próprio prefeito Kleiton Pereira percorreu a área num buggy.
Os técnicos da Defesa Civil observaram os pontos de erosão para elaborar um relatório da situação atual e de ações preventivas. Na ocasião, o coordenador Daniel Oliveira entendeu a necessidade de “realizar ações paliativas que venham a minimizar e retardar possíveis consequências dos impactos provenientes deste processo erosivo natural”.
“Para ações mais eficazes, se faz necessário um estudo geológico e ambiental por técnicos e peritos na área para identificar qual projeto de contenção será mais adequado para a região”, afirmou.
Já no último dia 25 de fevereiro, a Associação e a Prefeitura estiveram em reunião na sede da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), em Fortaleza, para explicar a situação.
Fonte- Diário do Nordeste