Com o aumento do período chuvoso no Ceará, volta o alerta para o acúmulo de água em reservatórios pela possibilidade de gerar criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika e chikungunya. Apesar de haver uma vacina disponível na rede pública de saúde, quase metade das doses enviadas ao Estado não foi aplicada ao longo de 9 meses.
Devido à baixa demanda em todo o país, o Ministério da Saúde (MS) decidiu, neste mês, ampliar o público-alvo desse imunizante (até então, jovens de 10 a 14 anos) e remanejar doses com prazo de validade iminente para novos municípios, em caráter temporário. Ficou definido que:
Doses com dois meses de validade: poderão ser remanejadas para municípios ainda não contemplados pela vacinação contra dengue ou ser aplicadas na faixa etária de 6 a 16 anos de idade;
Doses com um mês de validade: a estratégia poderá ser expandida para todo o público de 4 a 59 anos, 11 meses e 29 dias de idade.
“A expansão do público-alvo deve considerar a disponibilidade de doses e a situação epidemiológica de cada estado e município”, informou a Pasta.
Apesar dessa orientação, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) ainda não definiu como será a logística em território cearense. O órgão deve se reunir com representantes dos municípios, na próxima semana, para deliberar sobre a distribuição dos imunizantes.
Segundo o painel de monitoramento da Secretaria de Informação e Saúde Digital (Seidigi) do MS, 75.195 doses foram distribuídas ao Ceará desde abril de 2024. A última remessa, com 5.905 doses, foi enviada ao Estado em dezembro.
Ainda conforme a plataforma, os dados da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) mostram que 39.667 doses foram aplicadas no Estado, até 18 de fevereiro – cerca de 52% do total. Destas, 29 mil foram primeira dose e, outras 10 mil, segunda dose.
Do montante, 20,4 mil foram aplicadas em pessoas do sexo feminino, e outras 19,2 mil no sexo masculino. A maioria das doses foi aplicada em adolescentes de 12 a 17 anos (21,6 mil), seguidas por crianças de 5 a 11 anos (15,7 mil) e de 4 anos (286).
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) confirmou dados semelhantes: recebeu 77 mil doses e aplicou 35 mil (45%), desde maio do ano passado. “A meta é alcançar a vacinação de mais de 200 mil adolescentes em 27 municípios cearenses”, ressaltou.
“A vacinação acontece nas unidades básicas de saúde. Realizar a vacinação de adolescentes requer estratégias adicionais para alcançar o esquema completo. Assim, os municípios estão realizando o planejamento local e intensificando a comunicação/divulgação sobre a importância da vacinação”, declarou a Pasta.
Conforme a Secretaria, os municípios estão realizando o dia D de vacinação, em locais e horários estratégicos para alcance do público. Além disso, estratégias de mobilização para controle do mosquito Aedes aegypti ocorrem em escolas. “Na oportunidade, as equipes de saúde estão referenciando o público para as salas de vacinas”, pontua.
O Ministério da Saúde também reconhece a “baixa adesão à vacina” no cenário nacional: em 2024, enviou 6,5 milhões de doses aos Estados e Municípios, mas apenas 3,3 milhões foram utilizadas (cerca de 50%). Entre os adolescentes, cerca de 1,3 milhão que iniciaram o esquema vacinal não retornaram para a segunda dose.
Em resposta, o órgão ampliou o público-alvo da vacina e recomenda que Estados e Municípios “intensifiquem as estratégias de busca ativa, identificando e mobilizando aqueles que ainda não completaram o esquema vacinal”.
A vacinação no país teve início em fevereiro de 2024 em 315 municípios e, hoje, já chega a 1.921 municípios. O Brasil foi o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público.
No fim de abril, o Ceará recebeu as primeiras doses e iniciou o processo em quatro municípios selecionados pelo MS: Aquiraz, Eusébio, Fortaleza e Itaitinga. Em julho, ela foi ampliada para mais 23 cidades do Centro-Sul.
“A seleção dos municípios segue uma ordem de priorização conforme cenário epidemiológico dos últimos 10 anos e porte populacional”, afirma a Sesa.
Ampliação da vacinação
Em 2024, a vacina da dengue foi incorporada ao SUS para o público de 10 a 14 anos que reside em localidades prioritárias, conforme critérios definidos a partir do cenário epidemiológico da doença no país e decisão definida com Estados e Municípios na Comissão Intergestores Tripartite (CIT).
Só neste mês, o Ministério da Saúde deliberou pela ampliação do público-alvo, que pode chegar a pessoas de até 60 anos incompletos.
Qual é o intervalo entre as doses?
A vacina apresenta um esquema de duas doses, com intervalo mínimo de 3 meses entre 1ª e 2ª dose. Até o momento, não há dados que indiquem a necessidade de uma dose de reforço.
A vacina é indicada para proteção contra o vírus da dengue em crianças, adolescentes e adultos de 4 a 60 anos de idade incompletos, independentemente de infecção prévia. Ou seja, quem já teve dengue pode tomar a vacina.
Após uma infecção pelo vírus da dengue, recomenda-se um intervalo de 6 meses para a administração da vacina de dengue. A mesma orientação também se aplica para os casos de dengue que ocorreram após a 1ª dose do imunizante.
Qual é a eficácia da vacina?
A eficácia da vacina em crianças e adolescentes foi comprovada contra DENV-1 (69,8%), DENV-2 (95,1%) e DENV-3 (48,9%).
Um estudo de fase III demonstrou que a administração de duas doses da vacina permitiu uma eficácia vacinal de 80,2% na população de estudo após 12 meses da segunda dose, e diminuição de hospitalização em 90,4%, 18 meses após a segunda dose.
Casos de dengue no CE
Segundo a plataforma IntegraSUS, da Sesa, o Ceará já confirmou 176 casos de dengue em 2025, incluindo dois graves. Ao todo, foram feitas 1.801 notificações da doença.
Até o momento, Penaforte lidera as confirmações, com 73 casos, seguida por Fortaleza (17), Barbalha (12), Brejo Santo (9) e Caucaia (8).
Em todo o ano passado, a ferramenta contabilizou 12.003 casos da doença, após mais de 50 mil notificações. Ao todo, o Ceará teve 18 casos graves e 9 óbitos confirmados.
Onde tem vacina no CE?
Os 27 municípios têm a vacina contra a dengue disponível na rede pública do Ceará são:
- Acopiara
- Altaneira
- Antonina do Norte
- Aquiraz
- Araripe
- Assaré
- Campos Sales
- Cariús
- Catarina
- Crato
- Deputado Irapuan Pinheiro
- Eusébio
- Farias Brito
- Fortaleza
- Iguatu
- Itaitinga
- Jucás
- Mombaça
- Nova Olinda
- Piquet Carneiro
- Potengi
- Quixelô
- Salitre
- Santana do Cariri
- Saboeiro
- Tarrafas
- Várzea Alegre
Fonte- Diário do Nordeste