Falésias em 6 cidades do Ceará estão sujeitas a desabamentos e podem causar acidentes

Estruturas da paisagem de praia podem se desgastar por fatores ambientais e humanos e provocar colapsos
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Belas e imponentes, as falésias são figurinhas carimbadas em cartões-postais do litoral do Ceará. A potência paisagística desses locais tende a aumentar a visitação turística, mas também demanda atenção das autoridades quanto aos riscos de acidentes, como desabamentos e deslizamentos. Ao todo, seis cidades do Estado estão sujeitas a esses processos e carecem de maior atenção para medidas preventivas.

O alerta é do Plano de Ações de Contingência para Riscos Associados a Ambientes de Falésias, produto da Secretaria de Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema) elaborado no âmbito do Programa Cientista Chefe Meio Ambiente (CCMA/Sema/Funcap) e lançado na última semana.

As falésias são paredões localizados em praias, em forma de escarpas íngremes, formadas pela deposição de sedimentos. As falésias ativas são modeladas constantemente por ações de ondas e marés, mas sua escarpa está sujeita a processos de queda e movimentos de massa.

Por isso, além de mapear a situação das estruturas do Ceará, o estudo pioneiro é um documento-base para o gerenciamento de riscos de desastres, mapeando áreas com maior vulnerabilidade a acidentes a partir do contexto natural e do uso e ocupação da zona costeira.

O estudo foi elaborado após dois casos graves envolvendo falésias no Estado vizinho do Rio Grande do Norte, ambas na turística Praia de Pipa. Em novembro de 2020, a queda de blocos de uma falésia causou a morte de três pessoas da mesma família. Já em janeiro de 2024, uma turista morreu após cair do topo de uma falésia ao pilotar um quadriciclo.

No Ceará, mostra o Plano, as falésias estão predominantemente localizadas no Litoral Leste (começam em Beberibe e se estendem, de forma descontínua, até o limite do Rio Grande do Norte), embora também ocorram na área Oeste. Conforme as análises do levantamento, os municípios mais suscetíveis a acidentes com essas estruturas são:

Costa Leste
Beberibe: Morro Branco e Praia das Fontes
Fortim: Praia do Pontal de Maceió
Aracati: Praia de Canoa Quebrada
Icapuí: Praias de Redonda, Peroba e Ponta Grossa
Costa Oeste
Caucaia: Praia do Pacheco
Paraipaba: Praia da Lagoinha
“São poucos os municípios do Brasil que possuem material similar. O Rio Grande do Norte, onde aconteceu o problema, tem um documento, mas só para a Praia de Pipa. Não tem um documento para o Estado todo como o Ceará”, explica Davis de Paula, doutor em Ciências do Mar, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e membro da equipe técnica do estudo.

Embora traga o alerta, o Plano ressalta que “os movimentos de massa em falésias são de difícil previsibilidade, podendo-se apenas indicar o nível de suscetibilidade ao qual estão sujeitas”.

Em fevereiro de 2011, o Diário do Nordeste noticiou que parte de uma falésia desmoronou na Praia de Redonda, em Icapuí. Não houve feridos, mas o estrondo foi tão grande que moradores ouviram o barulho a quase 2km de distância.

Quais são os riscos das falésias?
Pela proximidade e semelhança com as formações de Pipa (RN), Icapuí tem “possibilidades de perdas de vidas humanas em eventos de quedas”. Os setores “potencialmente perigosos” ficam na Praia de Ponta Grossa – onde estão as maiores elevações do Estado, em torno de 43 metros – e nas falésias próximas da Praia da Redonda, tendo em vista uma maior quantidade de frequentadores.

Também em Icapuí, outro cenário de risco está relacionado a construções situadas na base das falésias, que podem ser atingidas por detritos dos movimentos de massa. Isso pode ser constatado em residências situadas nas praias de Barreiras e Peroba.

Já os riscos de quedas de pessoas e veículos do topo de falésias ou dentro de suas voçorocas são mais urgentes no Monumento Natural das Falésias de Beberibe, “cujo acesso diário de pessoas e veículos através da praia das Fontes é muito frequente, sem nenhum controle de acesso”.

A visitação de pessoas em cavidades formadas pela ação erosiva também foi constatada na “Gruta Mãe d’Água”, também na praia das Fontes. Devido ao risco de colapso, a área foi interditada pela Defesa Civil municipal em 2022, que fixou uma placa de aviso de perigo. Contudo, a sinalização foi removida do local e não é mais visível.

Entre os problemas que podem ser causados por falésias, também estão os soterramentos, devido a movimentos de massa. Esse risco está descrito para as praias de Retirinho e Canoa Quebrada, em Aracati, e Pacheco, em Caucaia. Nesta última, há placas de sinalização numa área específica mais visitada.

Embora não estejam no alerta, as falésias de Camocim também foram mencionadas no documento. Elas têm menor altura, de até 4 metros, e maior estabilidade. “No entanto, não se pode descartar a possibilidade de ocorrência de acidentes, tanto com pessoas localizadas na base quanto no topo das falésias”, afirma o Plano.

Por que falésias podem cair?
As vulnerabilidades das falésias estão ligadas à erosão costeira e à instabilidade geológica, que podem provocar quedas de blocos e deslizamentos com eventuais acidentes com vítimas.

O perfil delas é modelado constantemente por ações marinhas na base e fatores climáticos no topo, incluindo solapamento (retirada de sedimentos da base) e desmoronamento (desprendimento dos sedimentos superiores).

Além dos fatores naturais, a ação humana também pode influenciar no processo. “A construção de edificações e vias sobre as falésias contribuem para a impermeabilização e compactação do solo por pisoteamento, interferindo na velocidade de escoamento superficial e aumento da erosão linear”, explana o documento.

Fonte- Diário do Nordeste

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