Hoje, o futebol é um símbolo incontestável da identidade brasileira, mas sua história no país começou de forma bem diferente do que se imagina. Longe das arquibancadas lotadas e da vibração dos torcedores nas ruas, o esporte nasceu por aqui como uma prática exclusiva da elite.
O primeiro time de futebol da história do Brasil foi o São Paulo Athletic Club (SPAC), fundado em 1888, mas o primeiro clube oficialmente dedicado ao futebol foi o Clube de Regatas Flamengo, que posteriormente incluiu o futebol em 1911. Entretanto, o primeiro clube de futebol genuinamente brasileiro, fundado para a prática exclusiva desse esporte, foi a Associação Atlética Mackenzie College, criada em 1898.
O futebol, nesse período, era um esporte de elite, praticado por jovens das classes altas, majoritariamente brancos e de ascendência europeia. O SPAC, por exemplo, era um clube formado por ingleses que trabalhavam no Brasil. Isso reflete a segregação social e racial do esporte nos primeiros anos.
Quando se fala na popularização do futebol no Brasil, muitos lembram desses times tradicionais como Flamengo, Corinthians e Vasco. Mas pouca gente sabe que um dos primeiros clubes a romper a barreira da elite branca e trazer o futebol para o povo foi o Bangu Atlético Clube.
Fundado em 1904 por operários da Fábrica têxtil Bangu, no Rio de Janeiro, o time foi pioneiro ao incluir trabalhadores e jogadores negros em uma época em que o futebol ainda era um esporte restrito às elites brancas. Enquanto os clubes tradicionais aceitavam apenas membros da aristocracia e filhos de estrangeiros, o Bangu permitia que operários vestissem a camisa e disputassem partidas.
O caso mais emblemático foi o de Francisco Carregal, o primeiro jogador negro a atuar em um time brasileiro, em 1905. Num período em que o racismo institucionalizado impedia que negros participassem das competições, o Bangu desafiou as normas e ajudou a transformar o futebol em um espaço mais acessível e democrático.
Mais tarde, nos anos 1930, a profissionalização do esporte transformou jogadores da periferia em ídolos nacionais. Com o governo de Getúlio Vargas, o futebol foi incorporado à ideia de identidade brasileira, tornando-se um espetáculo de massas. Na Copa de 1950, realizada no Brasil, o país inteiro já vibrava pelo esporte, que agora pertencia ao povo.
Hoje, lembrar da história do Bangu é reconhecer que o futebol brasileiro começou a ser popular muito antes de grandes estádios e ídolos midiáticos. Foi nos campos de terra e nas fábricas que a bola começou a rolar para todos. Se antes o futebol era um privilégio da aristocracia, hoje ele se tornou uma ferramenta de inclusão, resistência e transformação social. E pensar que tudo começou como um hobby de senhores de fraque e gravata…