O Banco Central decidiu aumentar novamente a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 1 ponto percentual, alcançando 14,25% ao ano. A decisão foi tomada por unanimidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom), em resposta à persistente alta da inflação e às incertezas econômicas globais. Esse patamar de juros não era registrado desde outubro de 2016 e consolida um ciclo de aperto monetário iniciado em setembro do ano passado.
De acordo com o comunicado do Copom, a inflação segue pressionada, principalmente pelos preços dos alimentos e da energia. Os núcleos da inflação, que excluem itens mais voláteis, também continuam em alta. O órgão alertou que a inflação de serviços pode permanecer elevada e destacou que seguirá monitorando a política econômica do governo para avaliar seus impactos sobre a política monetária e os ativos financeiros.
As incertezas externas, especialmente ligadas à política comercial do país, também influenciaram a decisão. O Banco Central ressaltou que o comportamento do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, segue como um fator de preocupação, podendo impactar os fluxos de capitais e a taxa de câmbio no Brasil.
A decisão de aumentar os juros já era esperada pelo mercado financeiro e havia sido sinalizada na reunião de janeiro. Desde que o ciclo de alta da Selic começou, a taxa saiu de 10,5% ao ano, em agosto do ano passado, para os atuais 14,25% ao ano, com sucessivos aumentos que variaram de 0,25 a 1 ponto percentual.
O principal objetivo da política monetária é controlar a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o IPCA ficou em 1,48%, pressionado pelo fim do bônus de Itaipu na conta de luz e pelo aumento dos preços dos alimentos. No acumulado de 12 meses, a inflação está em 4,87%, acima do teto da meta do ano passado. A nova meta contínua de inflação, adotada a partir deste mês, estabelece um objetivo de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
As projeções do Banco Central indicam que a inflação pode encerrar 2025 em 5,1%, superando o teto da meta, enquanto o mercado financeiro estima um número ainda maior, de 5,66%, segundo o boletim Focus. No horizonte ampliado, que considera um período de até 18 meses, a expectativa é de que a inflação em 12 meses chegue a 3,9% no terceiro trimestre de 2026.
O aumento dos juros, embora necessário para conter a inflação, tem impactos negativos sobre a economia, pois encarece o crédito e pode reduzir o ritmo do crescimento econômico. No último Relatório de Inflação, o Banco Central elevou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,1% em 2025, enquanto o mercado projeta uma expansão um pouco menor, de 1,99%.
O Copom indicou que na próxima reunião, em maio, a Selic poderá subir novamente, mas em menor magnitude. O comitê reforçou que a condução da política monetária dependerá do comportamento da inflação e do compromisso com sua convergência para a meta. O cenário econômico permanece desafiador, com a necessidade de equilibrar o combate à inflação com os impactos sobre o crescimento do país.