Uma pesquisa divulgada na última quinta-feira pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostrou uma melhora no nível de endividamento das famílias brasileiras. O levantamento indicou que o percentual de famílias endividadas caiu para 76,1% em janeiro, uma redução de 0,6 ponto percentual em relação a dezembro e de 2 pontos percentuais na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Para alguns brasileiros, a mudança na gestão financeira foi essencial para sair do endividamento. A professora Danieli Silveira conseguiu equilibrar as contas ao reduzir gastos, evitar compras parceladas e priorizar pagamentos à vista. “Estou me policiando e conscientizando que o consumo saudável é a melhor saída”, explicou. Sua experiência de endividamento começou com o desemprego, levando-a a recorrer ao cheque especial e, posteriormente, ao cartão de crédito para cobrir despesas essenciais. Hoje, com as finanças sob controle, Danieli afirma que não quer passar por essa situação novamente.
Apesar da queda no endividamento geral, o cartão de crédito segue como a principal modalidade de crédito utilizada, representando 83,9% do total de débitos registrados. Esse percentual é 3% menor do que o observado no início de janeiro, mas ainda reflete um desafio significativo para muitas famílias. O técnico em logística Cesar (nome fictício) exemplifica essa realidade. Sua esposa precisou se afastar do trabalho para tratar um câncer, reduzindo a renda familiar. Com financiamento imobiliário e outros empréstimos, o casal acabou acumulando dívidas no cartão de crédito. Em busca de solução, Cesar procurou o Procon paulista para negociar os juros e obter melhores condições de pagamento. “Estou mais preocupado com a saúde mental da minha esposa e da família”, afirmou, na esperança de reorganizar as finanças em breve.
A pesquisa também analisou o nível de inadimplência entre os endividados. Em janeiro, 29,1% das famílias apresentavam dívidas em atraso, enquanto 12,7% declararam não ter condições de quitá-las. Esses índices mostram uma leve melhora em relação a dezembro, quando eram de 29,3% e 13%, respectivamente. Foi a primeira redução na inadimplência desde julho do ano passado. Em média, as dívidas comprometem 30% da renda das famílias entrevistadas, um dado que reflete uma postura mais conservadora em relação ao consumo.
No entanto, o endividamento não caiu para todos. Famílias que recebem até três salários mínimos foram o único grupo pesquisado que teve aumento no nível de dívidas. O percentual de endividados entre eles subiu em relação a janeiro do ano passado, atingindo 79,2%. Além disso, 18,4% dessas famílias afirmaram que não terão como quitar suas dívidas. O estudo também revelou que um quinto de todas as famílias endividadas tem mais da metade de sua renda comprometida com pagamentos.
Apesar dos índices positivos registrados neste início de ano, a CNC projeta que o endividamento voltará a crescer ao longo de 2025. As previsões indicam que os percentuais de famílias endividadas devem começar a subir novamente a partir de março, encerrando o ano com 77,5% das famílias brasileiras nessa condição e 29,8% em situação de inadimplência.