O anúncio do Ministério da Saúde sobre a primeira vacina nacional contra a dengue marca um avanço significativo para o combate à doença no Brasil. A nova vacina, chamada Butantan-DV, será produzida pelo Instituto Butantan e trará inovações importantes, como o esquema vacinal de dose única e o aumento no volume de doses disponíveis.
A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Mônica Levi, destaca que, apesar da entrega de 60 milhões de doses prevista para o próximo ano ser seis vezes maior do que a projeção inicial para 2025, o número ainda não será suficiente para imunizar toda a população. O Programa Nacional de Imunizações precisará definir quais grupos terão prioridade para receber o imunizante.
Atualmente, a vacina utilizada nos postos de saúde é a QDenga, da farmacêutica japonesa Takeda, destinada a adolescentes de 10 a 14 anos em cidades com maior incidência da doença. Exceções ocorrem para doses próximas do vencimento, que podem ser aplicadas em outros públicos. Mônica Levi ressalta a importância de estudos futuros que avaliem a segurança e eficácia da Butantan-DV em idosos, uma vez que essa faixa etária apresenta maior mortalidade pela doença.
Outro diferencial da Butantan-DV é ser a primeira vacina contra a dengue no mundo aplicada em apenas uma dose, o que pode aumentar a adesão à imunização. “Em vacinas de múltiplas doses, há sempre uma evasão significativa na segunda ou terceira aplicação. Uma campanha de dose única facilita a cobertura vacinal”, explica a especialista.
Desenvolvida em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Americano e a farmacêutica MSD, a vacina será produzida integralmente no Brasil, garantindo maior autonomia e reduzindo riscos de desabastecimento. “Não depender de acordos internacionais é essencial para assegurar a oferta necessária”, afirma Levi.
A Butantan-DV é tetravalente, protegendo contra os quatro sorotipos do vírus da dengue. Em testes finais, apresentou 79,6% de eficácia geral e 89,2% entre pessoas que já tiveram a doença. No entanto, a vacina ainda precisa da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser disponibilizada ao público, o que deve ocorrer apenas a partir de 2026.
Apesar dos avanços, a especialista reforça que a imunização não substitui a necessidade de medidas preventivas para o controle do mosquito Aedes aegypti. A dengue não é transmitida de pessoa para pessoa, o que significa que a vacina não cria “imunidade de rebanho”. “Reduzir o número de infectados diminui a circulação do vírus, mas ainda é fundamental evitar criadouros do mosquito”, alerta Levi.
Segundo o Painel de Monitoramento do Ministério da Saúde, o Brasil já registrou mais de 439 mil casos prováveis de dengue este ano, com 177 mortes confirmadas. Embora o número de casos em janeiro tenha sido inferior ao do mesmo período do ano passado, quando houve surto da doença, ele segue acima dos registros de 2023. A nova vacina surge como um reforço essencial no combate à dengue, mas o controle da epidemia dependerá também de ações contínuas de prevenção.