Astrônomos identificaram a origem de um enigmático fenômeno de pulsos de rádio detectados na Via Láctea ao longo da última década. Esses sinais, que ocorrem a cada duas horas e duram entre 30 e 90 segundos, foram rastreados até um sistema estelar binário localizado na constelação de Ursa Maior. A descoberta revelou que os pulsos se originam de uma anã branca em órbita próxima a uma anã vermelha.
As anãs vermelhas são as estrelas mais comuns do universo, e, nesse caso, interagem magneticamente com a anã branca, gerando o fenômeno chamado de transiente de rádio de longo período (LPT). Antes dessa descoberta, tais explosões de rádio prolongadas eram atribuídas apenas a estrelas de nêutrons, resquícios densos de explosões estelares. O estudo, publicado na revista Nature Astronomy, amplia o conhecimento sobre como os sistemas binários podem produzir esses sinais incomuns.
A principal autora da pesquisa, Dra. Iris de Ruiter, desenvolveu um método para identificar esses pulsos de rádio nos arquivos do radiotelescópio Low-Frequency Array (LOFAR), um dos maiores conjuntos de radiotelescópios da Europa. Durante a análise, ela encontrou registros de um pulso ocorrido em 2015 e, posteriormente, mais seis pulsos vindos da mesma região do céu. A anã vermelha, por si só, não poderia gerar tais ondas de rádio, o que levou à hipótese de uma interação com outra estrela.
Os pesquisadores realizaram novas observações com telescópios no Arizona e no Texas, confirmando que a anã vermelha se movia rapidamente, indicando a presença de uma anã branca como sua companheira gravitacional. A equipe determinou que ambas completam uma órbita a cada 125,5 minutos e que os pulsos de rádio estão sincronizados com esse movimento.
A descoberta pode esclarecer questões fundamentais sobre como diferentes tipos de estrelas em sistemas binários geram pulsos de rádio. O professor Charles Kilpatrick, coautor do estudo, destacou que esses pulsos são semelhantes às explosões rápidas de rádio (FRBs), embora sejam menos energéticos e durem mais tempo. Os cientistas ainda investigam se LPTs e FRBs fazem parte de um mesmo espectro ou se pertencem a categorias distintas.
A detecção desse raro transiente de rádio dentro da Via Láctea abre novas perspectivas para compreender os mecanismos que regem as emissões de ondas de rádio no cosmos. Essa descoberta também sugere que pode haver mais sistemas binários capazes de produzir fenômenos semelhantes, aguardando para serem identificados pelos astrônomos.