Cientistas noruegueses avançam na remontagem de uma antiga pedra rúnica descoberta em 2023, considerada a mais antiga do mundo, e revelam que ela faz parte de uma laje ainda maior com quase dois mil anos. A investigação arqueológica busca não apenas compreender o significado das inscrições, mas também identificar quem foi responsável por gravá-las.
As runas compunham a primeira escrita germânica e foram amplamente utilizadas na Escandinávia até o final da Idade Média. Apesar das semelhanças com o alfabeto romano, as origens desse sistema de escrita permanecem obscuras. Várias pedras rúnicas já foram encontradas na região, muitas datadas da era viking, entre os séculos VIII e XI, mas exemplos tão antigos quanto este são raros.
A descoberta inicial ocorreu em 2021, quando arqueólogos identificaram uma pedra com inscrições rúnicas em um antigo sítio funerário no leste da Noruega. Durante as escavações, outros fragmentos semelhantes foram localizados em tómulos próximos. A análise revelou que as peças se encaixavam, formando uma única estrutura que parece ter sido intencionalmente fragmentada e redistribuída em sepultamentos posteriores.
A datação por radiocarbono indicou que os fragmentos foram enterrados entre 50 a.C. e 275 d.C., confirmando que se trata da mais antiga pedra rúnica documentada. Segundo a professora Kristel Zilmer, do Museu de História Cultural da Universidade de Oslo, a raridade de pedras rúnicas em contextos arqueológicos bem datados dificulta a compreensão do uso inicial dessas inscrições. Essa descoberta oferece novas pistas sobre como as pedras foram reutilizadas ao longo do tempo.
Os fragmentos revelam não apenas desafios de tradução, mas também indícios sobre seus autores. Algumas inscrições parecem misturar escrita intencional com tentativas de formação de caracteres e elementos ornamentais. Uma das palavras mais intrigantes encontradas foi “Idiberug”, possivelmente um nome feminino. Outra inscrição indica a assinatura de um escriba, com um nome parcialmente desgastado que pode ter uma terminação feminina, sugerindo a possibilidade de a gravadora ser uma mulher, o que representaria o registro mais antigo de uma escriba rúnica conhecida.
As pesquisas continuam na tentativa de montar o quebra-cabeça formado pelos fragmentos restantes, um desafio complexo devido à falta de algumas partes. Para a curadora Lisbeth Imer, do Museu Nacional da Dinamarca, a descoberta pode mudar a compreensão das pedras rúnicas, que eram tradicionalmente vistas como monumentos comemorativos. O fato de a pedra ter sido gravada, destruída e reinscrita levanta novas questões sobre sua função e significado ao longo dos séculos. Os arqueólogos seguem investigando para desvendar os mistérios dessa antiga inscrição, que pode reescrever parte da história da escrita rúnica.