O deserto estéril que hoje domina o sudoeste da Líbia já foi um refúgio verdejante há milhares de anos. No abrigo rochoso de Takarkori, cientistas conseguiram recuperar os primeiros genomas completos de dois esqueletos femininos, fornecendo uma nova perspectiva sobre os antigos habitantes do “Saara verde”.
O estudo, publicado na revista Nature, revelou que essa população isolada viveu na região por dezenas de milhares de anos. Durante esse período, o Saara era uma savana com árvores, lagos permanentes e fauna abundante, incluindo hipopótamos e elefantes. As comunidades humanas desse ambiente dependiam da pesca e da criação de ovelhas e cabras.
A escavação do local começou em 2003 e, logo no segundo dia, arqueólogos descobriram a primeira múmia, identificada ao encontrarem sua mandíbula sob a areia. O isolamento genético do grupo Takarkori, evidenciado pela análise do DNA, indica que a área não funcionava como um corredor de migração entre a África subsaariana e o Norte da África, contrariando hipóteses anteriores.
Apesar do isolamento genético, a cultura desse povo não se manteve isolada. Vestígios de cerâmica oriunda do Vale do Nilo e da África subsaariana sugerem que a troca cultural era intensa. Os pesquisadores acreditam que a prática do pastoreio, em vez de ser introduzida por migrantes do Oriente Próximo, pode ter sido adotada por meio dessas interações.
Os achados representam um avanço na compreensão da ocupação humana no Saara e sugerem que essa população preservava uma linhagem genética ancestral que remonta ao Pleistoceno, encerrado há cerca de 11.000 anos. A pesquisa continua a explorar os impactos desse legado na evolução das sociedades do norte da África.