Ciro Gomes vence a luta ao trazer Lula para o meio da briga

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Com o auxílio luxuoso, e bem remunerado, de João Santana, Ciro Gomes entra no ringue cheio de gás e acerta um cruzado no queixo da estratégia petista de deixá-lo falando sozinho. A primeira a morder a isca foi Dilma, a mais “inapetente, incompetente e presunçosa”.

Nesta semana, Ciro Gomes afirmou ao Estadão estar seguro de que Lula contribuiu diretamente para a derrocada de sua criatura, até mesmo do impeachment, que tanto uns como o outro chamaram de golpe. Dilma, a quem nada foi atribuída, a não ser como alvo da ação, resolveu tomar as dores, e chamou Ciro de mentiroso.

Ciro retrucou, dizendo que jamais mentiu, mas cometeu erros. Entre eles, o arrependido apoio contra o impeachment. Seja qual fosse o discurso de Ciro em relação a Dilma, seria tachado de misógino, como de fato foi, sem sair do roteiro. Bateu tão profundamente o golpe desferido por Ciro, que Lula não se conteve e veio participar do bate-boca. Era tudo que o adversário queria.

A fala de Ciro em relação a Dilma é um discurso político que poderia se dirigira a qualquer pessoa, independentemente do gênero. Portanto, nenhum resquício de misoginia. Dilma a durona, a gerentona, agora quer dar uma de mariazinha, vítima de machismo. Esse papel não lhe cai bem. Mesmo num texto escrito por terceiros, seu desempenho é de péssima atriz.

Lula reagiu da pior forma. Primeiro, tentou navegar na onda da misoginia. Logo ele! Se Ciro tem o episódio de “o papel mais importante da Patrícia Pilar é dormir comigo” Lula tem a frase “cadê as mulheres de grelo duro?”. Segundo, insinuou que Ciro, que venceu a covid, teria sequelas no cérebro, na memória. Frase infeliz para um país tão castigado pela peste. E ainda citou a Bíblia: “Perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”.

Ao usar o nome de Deus em vão, Lula estava insinuando ignorância de Ciro, mas o que o incomoda mesmo é o seu contrário. O conhecimento que o ex-aliado tem das entranhas do lulopetismo. E a memória dos fatos que Lula quer ver deletada da lembrança dos brasileiros. A tática de Lula era se manter calado, para denotar irrelevância do cearense, mas não se conteve diante da fogueira que Ciro ateou nas coivaras petistas.

O fogo ardeu com frases certeiras como “numa bochecha, o medo; na outra bochecha, a arrogância, e o cinismo no olhar”. Mexeu com a autoestima daquele que se julga intocável. Desceu do Olimpo, para o ringue da política rasteira. Baixou a guarda, acusou o golpe, foi às cordas, mas ainda não foi nocauteado por Ciro, que tem suas vulnerabilidades. Um governo corrupto, e o outro incompetente. Mas Ciro serviu aos dois.

Lula, Ciro e Dilma estão plenos de razão quando falam um do outro. Mas o discurso de Ciro é mais verossímil. Eis que Lula se abraça agora com os caciques do MDB, artífices do “golpe” que levou Temer à cúpula do poder. Dilma foi traída pelo seu criador que se sentiu traído quando ela optou pela reeleição. Ele adivinhava o precipício à frente da caminhada de sua pupila. Os dois pagaram alto preço. Um na prisão, a outra sofrendo impeachment.

Quando conveniente, Ciro foi conivente. Agora, também por oportunismo, desfere fortes e contínuos golpes no “petismo corrompido”, ao vislumbrar única chance de se viabilizar como terceira via, para tentar alcançar as graças do segmento nem-nem: nem Lula, nem Bolsonaro. Para isso, acredita nos milagres que Santana possa operar.

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